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Árvores na Cidade
Roteiro das Árvores Classificadas de Lisboa
Autoras: Graça Amaral Neto Saraiva e Ana Ferreira de Almeida
Pela Editora BY THE BOOK

As autoras apresentam-nos um livro rico de conteúdo, em parte científico e rigoroso, em parte produto estimulante aos nossos sentidos. Mal abrimos o livro e começamos a folheá-lo, a parte emocional do leitor vem de imediato à superfície: a edição e a impressão cuidadas, com uma paleta cromática rica e rigorosa, serve de enquadramento a um texto vivo, muito bem escrito e de fácil leitura, informativo, mas narrador. 

É viciante, porque não conseguimos parar de o ler!
Está cheio de memórias, das nossas próprias memórias, dos espaços por onde passámos, dos detalhes que olhámos, mas que muitas vezes não vimos!

São três percursos, três roteiros de árvores classificadas, definidos por algo que os espaços de Lisboa partilham entre si:
No primeiro percurso as autoras embalam-nos entre o Cais do Sodré e Belém, com o pretexto de descobrirmos árvores classificadas com vista para o Tejo, esse Tejo que também faz cidade, veia salgada sem o qual este espaço poderia ser cidade, mas nunca seria Lisboa!
O segundo percurso foi desenhado de modo a obrigar-nos a percorrer colinas da cidade antiga entre o Chiado e a encosta do Castelo, uma Lisboa Romântica, cheia de referências, de património material e imaterial e, no presente caso, de um património vegetal relevante, que é necessário reconhecer e conhecer, uma vez que para muitos dos que passam por estas árvoresclassificadas, elas são silenciosas, quase transparentes, ou seja, uma vez mais olhamos sem ver!
Finalmente, de Monsanto a Olivais, visitamos matas e antigas quintas, seguindo um roteiro longo e sinuoso, procurando reconhecer espaços que em muitos casos já não existem, tentando perceber razões para a escolha do local de determinada árvore ou mesmo de determinada espécie: quantas histórias estão escondidas na dimensão espacio-temporal à espera de serem descobertas, de serem contadas, de serem cruzadas e partilhadas.

Não posso deixar de sublinhar a qualidade dos desenhos, científicos e rigorosos, mas muito expressivos, emotivos que, de acordo com cada autor, nos chamam a atenção para a estrutura, ou para a textura, ou o detalhe, ou a diferença perceptiva destas presenças na malha do espaço urbano ao longo do ano, numa relação de cheios e vazios, de mancha, de transparências e opacidades, de monocromatismos ou de paletas cromáticas ricas, contrastantes em relação aos outros elementos da especialidade urbana em que se inserem. Os planos cromáticos elaborados por arquitetos, por exemplo, raramente incluem as árvores presentes no espaço urbano que estão a tratar, ou a cobertura vegetal em geral, o que é um erro, porque a nossa vivência do espaço urbano não é um somatório de “frames”, mas uma visão holistica condicionada pelo nosso Saber Ser.
As fotografias não são elementos decorativos, pelo contrário articulam-se com os desenhos e o texto, numa trama rica de pontos-de-vista, onde sobressai a cuidada grelha de análise, de fácil acessibilidade a um leitor que não domine com profundidade a temática.
Tudo nos impele a sermos curiosos, a sabermos mais sobre o assunto, a irmos ao local, a fazermos os roteiros.

Tal como as autoras, também eu me pergunto:
. Como foram classificadas estas árvores?
. O que é necessário para que uma árvore seja classificada?
Existem tantas árvores em Lisboa à espera de serem classificadas, como forma não só de serem reconhecidas como de serem preservadas!

E sobre as Árvores, classificadas ou não, tal como referem as autoras na sua nota final “Basta que lhes dediquemos um olhar interessado é que nos deixemos cativar pela sua morfologia e fisiologia, pelas cores, aromas, texturas, pelas variações no tempo e no espaço, bem como pela imagem e poética que nos trazem, citadinos apressados que com elas cruzamos, na maioria das vezes sem lhes prestar a devida atenção.”

Através destes roteiros que Graça Saraiva e Ana Ferreira de Almeida nos propõem, que nos estimulam a curiosidade, possamos dar início a outros roteiros e a sermos capazes de identificar outras árvores, também elas cheias de histórias e participantes da nossa História, outros percursos, outros poemas!

Parabéns à Editora BY THE BOOK pela qualidade global da presente edição, cheia de atenções, de pequenos e preciosos detalhes.
Parabéns às autoras de uma leitura que se torna obrigatória, não só para os especialistas na temática, mas para todos os que são curiosos e amantes do Património da Cidade de Lisboa.

Lisboa e Jardim Botânico da Ajuda, 15 de junho de 2016
Fernando Moreira da Silva
Presidente do CIAUD – Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design

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