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Agradecimentos – CIAUD, CML, Editora e restantes patrocinadores

Como é que este livro começou?

Ana: 

Queria fazer um livro que fosse um passeio por Lisboa, mas englobando árvores.
Queria dados sobre a origem das exóticas, sobre as datas de plantação, enfim, passei dias a tomar notas e a fotocopiar documentos e jornais em bibliotecas. Estávamos em 2006. Queria saber tudo sobre as árvores de Lisboa, quando chegaram, donde vinham, quem as classificou… Ia guardando as informações. Depois parei. Faltava decidir que percurso escolher, e portanto que árvores iria integrar nesse passeio.

Um dia encontrei a Graça…

 

Graça:

Encontrámo-nos no nosso bairro, alguns anos depois de ter sido colegas no ISA, e descobrimos novas afinidades à volta das árvores de Lisboa.

Como Professora de Arquitetura Paisagista em escola de Arquitetos (FA), procurei despertar nos alunos o gosto e o conhecimento das árvores. Desenvolvi o trabalho ‘Adopte uma Árvore’ que os alunos teriam de desenvolver e, ao fim de vários anos, recolhi uma grande coleção de trabalhos sobre várias árvores, classificadas ou em jardins. Daí a vontade de reunir esses trabalhos, que foram experiências motivadoras para a Professora e Alunos, de descoberta destes ‘seres vivos’ para além das formas junto aos edifícios…

O primeiro resultado foi a publicação de artigos na revista Jardins, durante o ano de 2012 mas depois surgiu a ideia de reunir em livro a história destas árvores classificadas, bem como dos sítios onde elas vivem na cidade.

Estas árvores estão espalhadas em diversos sítios na cidade, jardins, ruas, pátios, quintas, terrenos abandonados e expectantes, em muitas situações com histórias para contar. Estabeleceram-se 3 percursos, que correspondem a diferentes zonas da cidade com distinto enquadramento urbanístico:

Percurso 1: Árvores com vista sobre o Tejo, na zona ribeirinha ocidental;
Percurso 2: Árvores nas colinas da Lisboa romântica, do Chiado à colina do Castelo, onde predominam nos jardins criados em Lisboa nos finais do século XIX e princípios do século XX;
Percurso 3: Árvores Classificadas em matas e antigas quintas da periferia da cidade, que assistiram às transformações urbanas do século XX, e que hoje estão em espaços com novos usos, reabilitados e conservadas as árvores, ou, eventualmente, esquecidas em terrenos expectantes.

Nesses percursos, assinalados em mapas da cidade, sabiamente elaborados pelo João Jorge, a quem agradecemos o dedicado esforço, são assinalados os espaços urbanos e a localização das respectivas árvores. Para além das histórias que os unem, existe registos fotográficos, plantas dos projectos de jardins quando essas árvores resultam de uma intervenção planeada, e, como um dos traços mais distintivo deste livro, uma profusão de desenhos e ilustrações das propriamente ditas árvores, dos troncos, folhas, frutos, de detalhes da sua morfologia, que resultam de muitas mãos que os esboçaram e desenharam, num total de 70 autores, como se pode ver da longa lista que consta da Ficha Técnica do livro. É assim uma vasta ‘copa’ de colaborações neste domínio, desde os que integravam os trabalhos dos alunos, até desenhos de colegas e ‘mestres’ do Curso de Ilustração Científica, como Pedro Salgado, Pedro Mendes, Joana Franco, Cristina Paixão e Filipa Roque de Pinho (e meus também, já agora), a quem muito agradeço a participação nesta ‘obra colectiva’.

Este livro tem como objectivo dar a conhecer melhor as árvores que nos rodeiam na cidade, com as quais nos cruzamos muitas vezes sem lhes prestar atenção. Têm muitas origens, entre as autóctones, naturais do nosso território, e as exóticas, vindas de paragens longínquas, que em Lisboa se aclimatam com facilidade, devido às características do seu clima ameno. Lisboa é encruzilhada de culturas e pessoas, mas também de árvores, e têmo-las originárias da Austrália, como as imponentes Ficus macrophylla, como as que existem também neste jardim, da América do sul, como as tipuanas e jacarandás, que nesta momento estão a cobrir de azul-violeta as nossas ruas, e outras de qua a Ana nos irá falar de seguida.

Conhecemos pouco as árvores, e talvez por isso não as estimamos muito, mais atentos aos seus eventuais inconvenientes, como as alergias que lhes atribuímos, ao espaço que ocupam, incomodando os nossos carros e edifícios, controlando-as por podas excessivas e deformadoras, muitas vezes não valorizando os seus importantes benefícios ecológicos e sociais bem como os significados culturais e simbólicos.

Passava de novo para a Ana, rematando com uma citação de Alberto Caeiro –

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.”

 

Ana:

Este jardim, por exemplo, está perto do itinerário do nosso Percurso 1.
Temos na Tapada da Ajuda os dragoeiros – sabem por que é q se chamam dragoeiros? Porque a seiva, quando exposta ao ar, oxida e fica vermelho-vivo, cor de sangue de dragão… Cerca de 1791, o director deste jardim botânico onde hoje estamos era Domingos Vandelli, e na sua lista de plantas raras e exóticas a adquirir para o jardim incluiu o dragoeiro. Que se calhar é o mesmo q se encontra perto da outra entrada, suportado por uma estrutura de ferro…

E também perto daqui temos 4 oliveiras, classificadas, na capela do Alto de S. Amaro. As oliveiras são conhecidas e veneradas na região mediterrânica desde a Antiguidade. Raminhos foram encontrados nos túmulos dos faraós. Era uma árvore adorada na Grécia Antiga, onde o azeite, já conhecido e utilizado, ardia nas lâmpadas sagradas dos templos. Foram as primeiras plantas referidas na Bíblia e no Antigo Testamento. Símbolo da paz ainda nos nossos dias, de velhinhos e carcomidos troncos ainda rebentam raminhos capazes de produzir frutos!
A datação por carbono regista idades superiores a 2000 anos para várias oliveiras, em Itália, Espanha, Montenegro, Grécia, Creta.

Bem perto de Lisboa, na região de Loures, até há poucos anos parte de um olival que entretanto foi cortado, existe uma oliveira a que um estudo recente atribuiu a idade de 2850 anos. Se fizermos umas contas, verificamos que ainda os Romanos por aqui andavam, na altura em que Cristo nasceu, já a árvore teria uns 850 anos. Quando Portugal se formou, já contava quase 2000 anos…

Algumas chegaram até nós praticamente iguais ao que se imagina que fossem há 150 milhões de anos, quando eram a única espécie de árvore que existia, numa paisagem de fetos arbóreos. Estamos a referir-nos à Ginkgo biloba, referida no nosso percurso 2, que parece que assistiu à chegada e desaparecimento dos dinossauros, só foi descrita (pelo botânico Kaempfer) em 1712, no Japão, sobreviveu à bomba de Hiroxima, e ainda hoje a podemos admirar nas nossas ruas e jardins. Foram descobertos alguns povoamentos espontâneos no sudeste da China, quando já se considerava extinta na natureza. Nessa região vive mais de 1000 anos.

Já se sabe que as árvores são os seres vivos conhecidos à face da Terra que atingem maior dimensão e longevidade.

Bom exemplo são as sequoias. A Sequoia sempervirens, espécie da zona costeira da Califórnia, tem exemplares que atingem a maior altura conhecida em espécies arbóreas, 115,5 metros, e pode viver entre 1200 e 1800 anos, e a Sequoiadendron giganteum, originária da Sierra Nevada, também na Califórnia, com o maior volume, chegando aos 85 metros de altura e 8 de diâmetro, e em que a árvore mais antiga que se conhece tem cerca de 3500 anos.

(Agradecimentos à nossa incansável revisora científica Lisete Caixinhas)

Como é que aqui chegámos?

As florestas sempre foram fundamentais à vida humana. Abrigo, alimento, aquecimento, manifestação do divino e até lugares de culto, tudo os povos encontraram nos espaços arborizados. Existe evidência científica dessa dependência desde o neolítico, há 5000 anos.
Ao longo dos séculos, a relação dos homens com a floresta foi-se alterando. O progresso, traduzindo-se numa industrialização crescente, levou milhares de camponeses a abandonarem os campos para procurar uma vida melhor nas fábricas das vilas e cidades.
A partir do século XIX, à medida que a paisagem familiar se ia alterando ou desaparecendo devido a projectos industriais, urbanísticos ou de outro tipo, os movimentos de conservação da natureza começaram a desenvolver-se.
As matas já não eram apenas locais de produção de madeira, mas também entidades lúdicas e belas, que era preciso salvaguardar como fazendo parte da natureza, por motivos estéticos, éticos, culturais e sociais.
É já no século XX, mais precisamente em 1914, que se cria a Associação Protectora da Árvore, com o objectivo de catalogar e proteger as árvores consideradas notáveis.
Em 1938, surge um decreto-lei visando a defesa e proteção “ de arranjos florestais e jardins de interesse artístico ou histórico, assim como os exemplares isolados de espécies vegetais que pelo seu porte, idade ou raridade se recomendem a cuidadosa conservação.”
Assim se classificaram como de interesse público em Lisboa 62 árvores, que se incluem neste livro.

Espero que gostem, que vos seja útil e não se traduza em mais um desperdício de árvores!

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