Arouca11

Saudação aos alunos e às suas famílias, porque foi do seu tpc que nasceu este trabalho.

Quero, em primeiro lugar, agradecer à Margarida Oliveira o empenho e o gosto que pôs na edição destas histórias. Sem ela ainda não seria desta que este trabalho veria a luz do dia, o que, eu acho, seria uma pena.

Muito obrigada Margarida.

Agradeço à Câmara de Arouca a cedência deste espaço e o apoio no lançamento e divulgação desta obra.

Que histórias são estas? São histórias recolhidas quando há vinte anos dei aulas em Arouca. Nesse ano foi-me atribuído um horário exclusivamente de Francês, mas fugindo um pouco ao programa,consegui que alguns alunos me trouxessem estas histórias.

Foram trabalhadas e ilustradas e ficaram prontas para publicação há já alguns anos. Foram mostradas a alguns amigos, Isabel Cardigos e Fernando Mascarenhas foram amigos entusiastas que ao longo dos anos não as esqueceram e que incentivaram a sua publicação. Uma destas histórias faz hoje parte da obra Catálogo dos Contos Portugueses (de Isabel Cardigos e Paulo Correia; CE Ataíde de Oliveira – Universidade do Algarve). Depois de uma 1.ª tentativa de publicação frustrada, aqui estão finalmente.

São pequenas histórias, mas as histórias também não se medem aos palmos. Elas mostram sentimentos e preocupações que são nossas desde sempre. São narrativas pequenas e concentradas que falam de mistérios e de sonhos. Numa das primeiras Barnabé e a Tecedeira esta diz ao Barnabé “tu escondes-te do povo mas não te escondes de Deus” e é esta relação do visível com o invisível, e assim também o desejo de eternidade que está presente em grande parte delas. O mistério, o invisível e as fantasmagorias que os nossos medos criam são favorecidos pela noite em que parte delas se passa. É a sua ingenuidade e humanidade que as torna interessantes e às vezes comoventes.

Nestas histórias os homens têm o papel central: são eles que enfrentam o medo e terão a recompensa da sua coragem, são eles os que aspiram à santidade. Quando são maus são o diabo, o que tem certa grandeza e estatuto. E as mulheres? As mulheres são bruxas que passam as noites em actividades incompreensíveis e até um pouco patetas como bater palmas e dar risadas ou belas mouras encantadas, inatingíveis sonhos de homens. As mulheres são associadas a cobras nalgumas histórias que passam a serpentes, noutras cada vez mais tentadora se perigosas com certeza a caminho de serem víboras… muito más. Aqui não há sapos que se transformam em príncipes nem sequer mouros encantados.

Espero que o papel da mulher vá mudando em futuros contos sem que tenha de ser legislada a paridade.

Mas numa das histórias há uma figura humilde, uma velhinha que tem pena dum pobre morto e lhe põe nas mãos um ramo de carqueja. O seu gesto de compaixão compensa o lugar secundário que as mulheres ocupam nas outras histórias. Um ramo de carqueja que equilibra a balança.

Desejo que esta edição seja o ponto de partida para um inventário mais completo de Histórias de Arouca.

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